Nas próximas semanas, o presidente-executivo do Grupo Pão de Açúcar, Enéas Pestana, terá uma difícil missão: resolver o imbróglio envolvendo a família Klein, que tenta retomar o controle da Via Varejo, e ainda arrumar tempo para finalizar o planejamento estratégico de 2013. As metas para o ano que vem, que serão discutidas e eventualmente avalizadas pelo controlador Casino no começo de dezembro, são fundamentais para definir as ambições da empresa. ´Nossa proposta é manter um ritmo muito forte de expansão´, diz Pestana, que vai incluir no plano a conclusão do investimento de R$ 36 milhões na implementação de um novo formato de ponto de venda, com a bandeira Minimercado Extra.
´Eu já vejo nas lojas um consumidor mais confiante.´ Esse otimismo, respaldado pelos acionistas franceses, está longe de ser um caso isolado. Pestana é um dos 150 participantes da pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (IBEF SP), em parceria com a DINHEIRO, cujo resultado ajuda a explicar por que o Brasil deve crescer muito mais em 2013. Nada menos que 92,3% das empresas ouvidas pelo instituto projetam um faturamento maior no ano que vem, e 50% delas pretendem investir mais do que em 2012 (leia a pesquisa ao final da reportagem). A percepção de um 2013 mais generoso foi a tônica de um almoço promovido pelo IBEF SP, que reuniu, no começo do mês, diretores financeiros de 35 empresas, em São Paulo. DINHEIRO acompanhou o encontro, com exclusividade, e constatou que os homens do dinheiro, conhecidos como CFOs, já receberam sinal verde para pisar no acelerador. ´As perspectivas estão fortes e otimistas´, diz Keyler Carvalho Rocha, presidente do conselho de administração do IBEF SP. ´Ninguém está perdendo tempo.´ A mensagem do empresariado soa como música para os ouvidos do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que espera uma expansão de 10% dos investimentos no ano que vem, colhendo os frutos da política econômica adotada neste ano. ´Em 2013 entram em vigor todas as medidas de estímulo ao investimento e ao crescimento da economia´, diz Mantega. ´Será inevitável uma expansão dos investimentos nas principais áreas da economia.´ O entusiasmo do setor privado – e do governo – também ficou evidente durante a abertura do Salão do Automóvel de São Paulo, na quarta-feira 24. Diversas montadoras, como Mercedes-Benz, Volvo, Land Rover e Audi, revelaram a intenção de construir novas fábricas no Brasil. Dois dias antes, a presidenta Dilma Rousseff recebeu, no Palácio do Planalto, a visita do vice-presidente da BMW, Ian Robertson, que anunciou a instalação da primeira fábrica da empresa alemã no Brasil. O empreendimento, que será erguido em Araquari, no norte de Santa Catarina, vai consumir R$ 550 milhões. Mas a lista de empresas novatas no Brasil não se restringe à indústria automobilística.
De olho no mercado de informática, que tem crescido dois dígitos por ano, a fabricante chinesa de PCs Lenovo vai construir, em Itu (SP), a sua primeira unidade, com um investimento de R$ 65 milhões. ´Somos líderes em vendas de PCs na China, na Índia e na Rússia´, diz Alfredo Benito, diretor financeiro da Lenovo. ´A meta agora é o Brasil para completarmos o Brics.´ Assim como para a Lenovo, o crescimento da classe média, nos últimos anos, continua sendo um estímulo fundamental para os empresários. A Brasil Foods, por exemplo, planeja investir R$ 1,5 bilhão para expandir sua produção, de olho no mercado interno, de onde vem 60% do faturamento. ´Quanto mais se vendem geladeiras e microondas no País, mais as pessoas compram os nossos produtos´, afirma Leopoldo Saboya, CFO da companhia. O setor de linha branca deve crescer a um ritmo de dois dígitos em 2012, puxado pelo desconto do IPI, concedido pelo governo. Outra empresa que projeta um horizonte azul com os novos consumidores emergentes é a companhia aérea TAM. ´A classe C vai estimular a demanda por passagens no ano que vem´, afirma Daniel Levy, vice-presidente de finanças e gestão da TAM. Além do ganho contínuo de renda, o ciclo consistente de queda de juros, neste ano, também deve aumentar as vendas da TAM, acredita Levy. Isso porque as parcelas das compras financiadas pelas famílias brasileiras ficarão mais baratas. ´Com juros baixos, as prestações ficam menores e acaba sobrando dinheiro para viajar´, diz Levy. A queda de juros, por sinal, tornou-se a variável mais importante para a definição de novos projetos, segundo os 150 executivos ouvidos pela pesquisa do IBEF SP. O novo cenário econômico vai impulsionar, ainda, os negócios no setor de construção civil, avalia André Luís Rodrigues, diretor-financeiro da JHSF e presidente-executivo do IBEF SP. ´Taxa de juros mais baixa desloca investimentos para o setor imobiliário´, diz Rodrigues, que está investindo na construção de um aeroporto executivo em São Roque (SP), ao custo estimado de R$ 700 milhões. A Duratex, fabricante de painéis de madeira, louças e metais sanitários, também projeta uma forte expansão.
´Vamos crescer o dobro do PIB em 2013´, afirma Flavio Donatelli, diretor-financeiro e de relações com investidores da companhia, que destinou R$ 650 milhões para ampliar a sua capacidade produtiva. O ano de 2013 será marcado, também, pelo início da safra de eventos esportivos – começando pela Copa das Confederações, marcada para o mês de junho –, que estão definindo os planos de empresas, como a gigante calçadista Alpargatas. Uma fábrica da marca Havaianas, que vai consumir R$ 177 milhões, está sendo erguida em Montes Claros (MG), de olho na movimentação que o torneio de futebol do ano que vem promoverá, assim como a Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada, em 2016. ´Esses eventos darão visibilidade global às nossas marcas´, diz José Roberto Lettiere, CFO da Alpargatas. A Netshoes, por sua vez, líder no comércio eletrônico de material esportivo, intensificou os investimentos em logística para estar em forma a partir do ano que vem. ´Já estamos desfrutando os investimentos realizados´, diz José Rogério Luiz, vice-presidente de planejamento da Netshoes. Até mesmo a indústria de transformação, que estava andando de lado desde 2011 e começou a se recuperar no terceiro trimestre, deve dar sua contribuição para o crescimento no ano que vem. Essa é a previsão da Elektro, que distribui energia no interior de São Paulo, e já detectou a retomada do setor produtivo. ´Devemos ter, em 2013, um crescimento do consumo de energia mais próximo ao da média histórica, de 4% a 4,5%, com a indústria liderando´, diz Rodrigo Silva, diretor-financeiro e de relações com investidores da Elektro. Silva lembra que a tão aguardada redução no preço da energia, que começa a vigorar no ano que vem, vai beneficiar a companhia, pois tende a reduzir a inadimplência dos clientes. A energia mais barata será um alento para empresas como a petroquímica Braskem, que tem sofrido com o elevado preço da nafta, o seu principal insumo. ´Energia e câmbio ajudam a compensar as margens de lucro que ficaram mais apertadas´, diz Marcela Drehmer, diretora-financeira da Braskem. Já a química AkzoNobel vê um cenário otimista pela frente. ´O setor de celulose vai dobrar sua capacidade até 2020´, diz Rogério Menezes, CFO da empresa holandesa, que tem investido R$ 200 milhões por ano no Brasil desde 2006. A principal obra em andamento é a fábrica de insumos para celulose em Imperatriz, no Maranhão, no valor de R$ 176 milhões, que demandará novas contratações. O mercado de trabalho, aliás, vai ficar movimentado no ano que vem. Segundo a pesquisa do IBEF SP, 85,7% pretendem ampliar o quadro de funcionários, informação que faz brilhar os olhos do presidente da Saint Paul Escola de Negócios, José Cláudio Securato. ´Crescemos 100% em 2012 e projetamos mais 75% no ano que vem´, diz Securato. ´As grandes companhias estão investindo em capital humano.´ Desta forma, mesmo que o País feche este ano com um PIB magrinho, 2013 deve chegar com muitas razões para que a economia tire a barriga da miséria. |